
Faremos um panorama sobre o Novo Testamento, e um dos primeiros questionamentos que vem à nossa mente é: "por que precisamos analisar o contexto, e não ir direto ao ponto?" A questão é, se não compreendemos a história e o contexto, não nos situamos. Quando não conhecemos a história do texto bíblico, corremos o risco de não saber nos posicionar e extrair suas verdades. Quando falamos de Palestina, estamos falando de geografia + história. O Antigo Testamento termina com Israel sendo dominada pelos Persas, e o Novo Testamento surge com Israel sendo dominada pelos Romanos. Este panorama se faz necessário porque entre um período e outro existe um espaço de pelo menos 400 anos e para entendermos o que aconteceu neste período. Ao criar este chão histórico, isso irá afetar diretamente nossa espiritualidade e a nossa consciência. l Períodos Assim, temos quatro períodos na história nesses 400 anos que temos de lacuna entre A.T e N.T: ● O primeiro período, como já citado, foi o dos Persas. ● O segundo período foi o dos Macabeus. ● O terceiro período foi dos Gregos. ● O quarto período foi dos Romanos. Cada um desses povos inseriu uma marca na forma do povo de Deus pensar, seja uma marca positiva ou negativa, e compreender essas marcas nos ajuda a entrar no Novo Testamento de forma mais clara, identificando as marcas e tendo uma interpretação mais precisa. Existe uma expressão bíblica que é muito interessante: “A plenitude dos tempos”, para que Jesus chegasse era necessário a plenitude dos tempos, a ideia de completar um tempo. Quando este ciclo se completa, Jesus pode vir, porque todas as condições necessárias para que Jesus viesse estavam concretizadas, estavam completas. l Persas / Assírios O primeiro período que vamos trabalhar são os Persas. Quando falamos de Persas, você precisa relacionar isso com os Assírios e com a Babilônia.
O Reino do norte foi conquistado pela Assíria em 722 a.C, você verá este relato no livro de Reis.
Os Persas tinham uma ideia de dominação, então o que eles queriam fazer é construir uma unidade e destruir a identidade do povo, então tudo que lembrasse a cultura, os costumes, as festas, o idioma daquele povo, era vítima da destruição dos persas.
NOTA PASTORAL: Quando o império Persa está tentando construir uma unidade com este plano de apagar o passado, apagar a história, apagar a memória. Precisamos reconhecer estes passos como uma estratégia do inimigo em nossos tempos. Não se pode construir unidade a qualquer custo.
Unidade não tem a ver com atrapalhar ou destruir a individualidade, a essência de cada um. Construir como os Persas fizeram não é uma boa alternativa, o objetivo deles era que, uma vez que o povo não tinha identidade, eles poderiam fazer o que quisessem, a ideia do povo samaritano vem disso, então, eles começam a criar um povo mestiço para habitar uma região, porém, sem uma pureza de linhagem ou melhor ainda, falsificando ou enfraquecendo sua raiz de fé; isso é influência dos persas.
l Babilônia A Babilônia toma a Assíria em 612 a.C. A partir daqui criamos um novo vinculo, ou uma nova estratégia de dominação.
Diferente dos Assírios, a Babilônia tem uma outra relação com o povo judeu. Ela não quer mais destruir, não quer apagar a memória, ela quer dominar, ela quer tirar do Israelita o melhor que ele tiver para abençoar o próprio Reino.
Os Assírios dominavam por medo e pela força, já com a Babilônia quer extrair o máximo que puderem dos judeus.
Os babilônios deram liberdade para o povo de Deus crescer, o Judeu cresceu economicamente e de todas as formas.
Os Judeus eram um povo abençoado, começaram a crescer e ter independência de influência e de economia muito grande, tanto é que quando Ciro entra e toma o poder, muita gente não quis voltar para Jerusalém, em 200 anos de história, apenas 50 mil Judeus voltaram da Babilônia para Jerusalém.
O Império Babilônico só se manifestaria a quem agir de forma direta contra o governo, quem for bonzinho e pagar os impostos corretamente, viverá bem e livre. Aqui a comunidade judaica se transforma em urbana e comercial. A própria palavra “judeu” nasce neste período Babilônico.
l Gregos Aqui estamos falando de um período de 331 á 167 a.C. O nome principal deste período é “Alexandre O Grande”. Aqui temos uma mudança de personagem e de política.
É justamente por esse domínio que a língua grega é difundida, eles criam uma língua Universal, eles constroem estradas, o comércio é fortalecido e na junção destes acontecimentos existe uma valorização do individuo que nunca havia acontecido na história.
Os gregos desejam estabelecer uma forma de pensar, a Grécia é o berço da filosofia, é o berço da civilização moderna. As nossas origens vêm daqui. A partir de Alexandre que tenta implementar isso na cabeça do indivíduo, começa acontecer então algumas questões políticas. Com a morte de Alexandre, o governo deste império grego, o governo cai na mão dos seus principais generais: Ptolomeu, Seleuco e Laomedon.
Laomedon ficou com o império Sírio, Seleuco ficou com a Babilônia e Ptolomeu ficou com o Egito. Existe agora um processo de elenização, isso é assimilar o jeito grego de ser. Nós vamos ver em todo o Novo Testamento a ideia de que o judeu estava sendo forçado, ou levado pensar da forma grega.
Ptolomeu e Seleuco se juntam contra Laomedon e tomam a Síria, então a força grega se divide entre dois generais, são eles que detém o domínio da Palestina. Nós temos então essa rivalidade dos dois generais que tentam disputar território, e então pedem ajuda para os romanos, aí Roma acaba ‘’engolindo’’ os gregos. É muito importante percebermos como estes dois impérios se juntam, o império Grego contribui com a filosofia, com a forma de ser e o império Romano com a política, com a força.
No início do Novo Testamento, vemos Herodes chegar onde chegou e essa é a história por trás dele, este é o pano de fundo. l Macabeus Cabe aos Macabeus serem um ponto de resistência, porque entendendo que a identidade do povo judeu é única e exclusiva, eles não podem ser um povo escravo, a escravidão não combina com a identidade um povo que foi escolhido por Deus. Neste contexto de resistência surge Judas, ele é um general.
Ele começa a juntar um grupo de pessoas e ter algumas conquistas nas cidades e este avanço é tão notável que ele tem diversas vitórias contra este opressor, após inúmeras batalhas eles conseguem uma certa independência de nação, de politica e durante um período muito curto, Israel se afasta da dominação.
Havendo entre os próprios judeus intrigas, fazendo com que ao invés de se unirem por liberdade, toda intriga chegou ao imperador e chegando lá tudo isso se acabou. Eles foram aniquilados.
Vemos pessoas que percebem que estão sendo dominada, não se satisfazem com isso, mas ao invés de resolver com base na fé e na confiança de Deus, quer resolver no braço, na força. Quando pensamos em Macabeus, nos vem duas características principais: Um grupo de pessoas que está tentando resolver as coisas na força, ou nos conchavos políticos.
Estes foram 4 períodos que deixam na história deste povo um jeito de ser.
Agora temos este ambiente onde Jesus viveu, onde Jesus se relacionou com pessoas, este era o cenário, este era o ambiente onde Jesus tinha que falar do amor, do Evangelho e do arrependimento.
A seguir falaremos sobre o ambiente, as instituições e os personagens que conversaram com Jesus. Quando olhamos para o mapa (anexo à aula anterior) podemos história, vidas e pessoas.
Vale observar que quando falamos de Palestina, estamos falando de terra, do território onde o povo de Deus sempre viveu e agora, nosso objetivo é conhecer todo esse contexto. Este é um povo que está tentando sobreviver dentro de uma mudança muito dramática.
Todo período de transição, de mudança de vida, é um período de adaptação, de continuar sendo quem somos, mas ao mesmo tempo aberto para as mudanças que acontecem no mundo.
Quando falamos de plenitude de tempo ainda é necessário resgatar algo da aula anterior, nesse momento da história, tem-se estrada para ligar todos os lugares, assim, o povo possui mobilidade, antes era muito difícil se locomover, mas depois que os Romanos vieram, tudo se interliga, as estradas, a língua (grega) e o comércio, que é onde as pessoas se conectam, compram e vendem, é uma vida urbana.
Temos então a interferência dos gregos tentando moldar o pensamento do povo de Israel.
l Sinagoga - Cenáculo Era uma construção de dois, ou três andares. Funcionava como um salão de festas e neste lugar as pessoas se reuniam para orar.
Mas a principal instituição cultural é a Sinagoga, ela nasce no cativeiro Babilônico, ela foi um evento muito importante na história, pois apareceu em um tempo onde não existia um templo e o povo estava longe de casa, então a sinagoga surgiu de um desejo do povo de aprender a palavra de Deus e seus costumes, então passaram a exigir dos sacerdotes esse local.
A própria ideia de sinagoga no grego vem de reunião, de estar todos juntos.
Temos um grupo de adoradores que está tentando se redescobrir.
Existe uma estrutura nestes encontros, nesta reunião de adoradores.
Primeiro eles ouviam a lei, existia uma palavra de explicação, uma palavra de exortação, depois se cantava/recitava Salmos. Esta é a base da maioria da liturgia dos cultos das igrejas cristãs.
No Antigo Testamento, sempre vemos um povo que se levanta e cai, levanta e cai, por causa da idolatria.
A sinagoga representa na história do povo de Israel, um momento de virada, depois de todo o sofrimento, é na sinagoga que os mestres irão aparecer, ensinando a ler, dar ênfase no jejum, no sábado, na circuncisão, na pureza da aliança, então é aqui que surge uma figura muito importante, a do mestre.
Qual a diferença entre o mestre e o sacerdote? O mestre não tinha necessidade de ser de linhagem sacerdotal, era alguém habilitado a falar sobre a lei e ensinar, ele era o instrumento de auxílio para o povo dentro da sinagoga.
Em muitas vezes, Jesus é chamado de mestre, e quando as pessoas estão olhando para Jesus e chamando-o de mestre, eles têm todo esse sentimento, pois quando se olha para um mestre, sabemos quem ele é, e que ajudou de uma vez por todas a acabar com a idolatria, pois sabiam qual era o efeito da idolatria na vida do povo.
Na sinagoga, temos um grupo de adoradores que se reúnem para ouvir a lei, eles se concentram ali e desejam ouvir a lei, pois sabem que se não guardarem a lei no coração, passarão por períodos difíceis. Depois desse período onde a palavra era explicada e existia a exortação (no original, exortação tem a ver com encorajamento), existia um momento onde eles recitavam e cantavam o Salmo, aprendiam com essa linguagem a cantar com a alma.
Essa estrutura que vemos dentro da sinagoga é a base de toda a liturgia da maioria das igrejas cristãs de hoje (com algumas variações, é claro), mas desde a sinagoga, vemos o formato claro de culto que devemos obedecer.
Inicialmente, a sinagoga seria provisória, mas começou a fazer parte da vida do Judeu de forma tão definitiva, até mesmo com a conquista do fim da idolatria, o Judeu nesse período era alguém que não pensava mais na ideia de fazer uma imagem, construir um Deus de algum material, então por essa conquista, a sinagoga ganha um lugar permanente na história dos judeus. Hoje os Judeus continuam se reunindo em sinagogas.
l Sinédrio A próxima instituição é o sinédrio, ele veio com Esdras e Neemias, eles fizeram uma reforma e levaram o povo a fazer um pacto de aliança com Deus para viver o que eles entendiam que era a Lei de Moisés, sendo assim, esse primeiro pacto foi a matriz do que entendemos por sinédrio.
Ele era uma suprema corte, onde se legislava sobre a vida do Judeu, tinha um impacto muito forte, pois era ali em que o Judeu era julgado.
O sinédrio era presidido por um juiz/sumo sacerdote, e ele tinha poder inclusive de pena de morte, era composto por 70 pessoas e todo o Judeu, em qualquer lugar, era sujeito ao julgamento desta corte. Mas qual é a importância disso para o texto bíblico? É nesse lugar em que Jesus entra e é julgado para ser sacrificado. Qual é a ironia? O sinédrio foi construído para que o Judeu não se perdesse, mantivesse sua fidelidade com Deus. E quando Jesus entra no Sinédrio, no lugar que foi feito para que os Judeus não se perdessem do caminho, eles condenaram o próprio caminho.
Então essa ilustração mostra como temos a tendência de, mesmo bem intencionados, nos perdermos naquilo que temos de melhor. O sinédrio e a sinagoga eram para ser lugares de bênção, mas Jesus teve que brigar com esses dois lugares. As vezes nossa tentativa de se manter no caminho não são garantias de que não podemos nos perder, mesmo bem intencionados. Boa intenção é importante, mas não resolve quando o assunto é fé.
Aquelas pessoas tinham um propósito nobre, mas não conseguiram reconhecer o próprio caminho e tiraram o caminho. Esta é a grande ironia do Sinédrio. l Os Samaritanos Os samaritanos sempre foram olhados com péssimos olhos.
Chegou uma época em que os judeus oravam assim: “Senhor, obrigado por não ser mulher, obrigado por não ser escravo e obrigado por não ser samaritano”
. Para o judeu orar assim é porque acreditava que ser samaritano era uma traição, algo ruim, eles chegam a ter apelido de cães. Essa rivalidade mostra que existia uma separação e está separação existia pelo fato de existir uma mistura racial que vem da época dos Persas. As vezes somos tentados a pensar em segregação racial, mas a preocupação de Esdras no Antigo Testamento é que não se pode negociar quando o assunto é a essência da mensagem cristã, ou de nossa relação com Deus. Nossa fé não é negociável.
Nós percebemos esta rivalidade, quando Zorobabel constrói o templo nos livros de Ageu, Zacarias. Estes “samaritanos” que foram deixados para trás porque não tinham esta identidade também faziam parte dos inimigos.
Nós temos um personagem na história chamado Manassés que começa a ter inveja do sumo sacerdote que era seu irmão e ele acaba casando com alguém de Samaria, ele casa com a filha de Sambalate e ele constrói um templo no monte Gerezim e ele se transforma no sacerdote dos samaritanos. Este monte Gerezim é o que volta na conversa da mulher samaritana com Jesus. Este templo de Gerezim tem esta característica de pessoas que se venderam porque queria status, porque não conhecem a identidade. Quando o judeu olha para o samaritano, ele enxerga isso com olhos terríveis. Mas precisamos fazer uma distinção muito importante, uma coisa é você entender que a nossa fé não é negociável, que precisamos conhecer a essência disso e que não devemos abrir mão disso. Só que em algum momento da história, essa consciência de santidade se transformou em preconceito e o judeu não percebeu em que momento da história isso aconteceu. A coisa mais incrível e mais positiva, pode ser tornar em algo incrivelmente maligna e ruim.
O zelo se tornou em falta de entendimento, o zelo se transformou em perseguição.
A seguir discutiremos sobre os personagens que se ambientam no cenário da época de Jesus. Nesse período havia alguns grupos distintos, com características peculiares. São esses grupos o objeto de estudo deste capítulo.
l Os Fariseus
O primeiro grupo que vamos falar é o dos fariseus. Trata-se de um grupo que nos chama a atenção por conta da conotação negativa que esse povo carrega no nome, até mesmo por conta de Jesus tê-los chamado de sepulcros caiados. No entanto, nem todos os aspectos desse povo são negativos.
Neste capítulo, nós iremos entender que o problema dos fariseus consistia em não compreender a mensagem do evangelho. Mas, antes, vamos conhecer o contexto da época.
l Helenização Aqui temos o império grego e Romano, lembre-se que Roma vem com a força e a Grécia com as ideias. Quando falamos de Helenização, estamos falando de trazer um jeito de viver, de pensar da Grécia e de Roma, deste império Greco-Romano e fazer com que este jeito seja espalhado por todo o mundo.
Isso significa que quando os grego e romanos entram na história, essa difusão se torna muito forte.
O desejo dos gregos era imprimir uma filosofia de vida nas pessoas. Chegavam a colocar seus missionários para tentar fazer uma lavagem cerebral, para que todos daquela época – inclusive nossos personagens – pensassem como eles.
Assim sendo, a helenização se tornou muito forte em todo o mundo.
É nesse cenário que entram os fariseus, que se opuseram a essa ideia. Eles simplesmente se recusam a pensar como os gregos, pois queriam manter a postura de ser um povo que tem uma aliança com Yaveh.
E é dessa forma que eles passam a lutar, não somente com os gregos e romanos, mas com os próprios judeus que acataram a cultura grega. Os fariseus têm então uma tarefa muito difícil, que é não se contaminar.
A origem do nome “fariseu” vem do latim, “pharisaeus”, que significa: “separado”. Da mesma forma, quando falamos em santidade, seu significado é o mesmo.
Assim, santo é aquele que é separado, e as duas ideias estão apontando para a mesma direção: ser separado do mundo e não resistir. Portanto, o fariseu é alguém que quer ser santo.
Trata-se de um grupo que não quer ser engolido pelo sistema, mas está o tempo todo tentando sobreviver, sendo ele mesmo. Quem não está preocupado em preservar sua identidade religiosa, nunca vai correr o risco de virar um fariseu.
Quando lemos o livro de Isaías, vemos que ele fala de um povo remanescente, que sobreviveu à apostasia e à idolatria, e que sofreu diversos traumas, permanecendo como um remanescente fiel.
Esse povo a quem Isaías se refere é o fariseu. O fariseu comum daquela época dizia: Qualquer vida que não honre a Deus, por mais segura, por mais próspera que seja, não vale a pena! Compreendemos, então, que o fariseu não é um povo qualquer, que viveu de qualquer forma. Eles vêm de um trajeto de vida diferente, buscando viver de uma forma diferente do mundo.
Portanto, a ideia do fariseu é de alguém que está tentando viver separado de um padrão contaminado de viver, de um padrão que ele entende que não seja o certo. Para entendermos melhor o perfil do fariseu, deixo o texto de Daniel 11:11 e 12. A história fala de Antíoco, que cometeu uma abominação em lugar sagrado: colocou um porco sobre o altar. Uma atitude dessas é inadmissível para um fariseu, que é quem se posiciona, que não fica em cima do muro.
Assim sendo, o fariseu é alguém que quer ser uma pessoa melhor.
Mas existe um porém: nessa tentativa de ser alguém melhor, ele acaba se tornando alguém pior. Não seria essa uma característica de muitos de nós? Quando olhamos para as religiões, vemos que cada uma tem o seu caminho para ir para o céu. O judeu, por exemplo, acha que é merecedor da salvação por ter sido fiel à lei. E assim vemos que todas as religiões possuem um mesmo padrão: acham que estão habilitados a ir para o céu por causa da obediência.
O fariseu inverte a lógica da santidade, pois quando falamos de santidade na bíblia, temos duas lógicas: Primeiro nos tornamos santos para ser justos, ou primeiro nos tornamos justos para ser santos.
Na cabeça do fariseu a sua justiça é a base da sua santidade.
No Evangelho a justiça de Cristo na minha vida é a fonte, o motivo da minha necessidade de desenvolver santidade. O cristianismo defende que o cristão vai para o céu simplesmente pela graça de Jesus.
Ele reconhece sua incapacidade de obedecer, de fazer as coisas por ele mesmo que lhe desse direito à salvação. O teólogo Jonathan Edwards diz que todas as nossas tentativas, como seres humanos, são incapazes de nos manter longe do inferno, na mesma medida que uma teia de aranha conseguiria suportar a queda de uma pedra.
Ou seja, todas as nossas obras de justiça são totalmente incapazes de nos tirar do inferno.
Mas também vimos essa afirmação no livro de Isaías, ao dizer que “todas as nossas obras de justiça não passam de trapos de imundície”. E onde fica o fariseu? Ele é aquele que acredita que sua salvação acontece por causa de seus atos. Acredita que se for suficientemente bom, ele terá a salvação. Mas Jesus não nos ensina isso.
E era justamente esse o embate de Jesus contra o fariseu: mostrar que eles não entenderam a lei como deveria, uma vez que a essência da lei é o próprio amor e a própria graça.
Mas o que o fariseu faz para se manter distante do mundo? Ele começa a criar um acúmulo de regras, com a ilusão de que, se seguir tais regras em obediência, conseguirá agradar a Deus.
Mas esses costumes se desenvolvem de tal forma que ele garante a essência de ser judeu, mas a paixão interior é substituída por um comportamento exterior.
E assim, a santidade do fariseu é baseada na sua justiça, naquilo que ele acredita que seja certo. E então ele cria regras para tudo: para não se contaminar, para não errar etc. Mas ele faz tanta força para não ser um pecador e não se contaminar, que cria uma camada rígida ao seu redor.
E então vemos que toda a tentativa de viver uma vida diferente está no seu exterior; o interior continua intacto. A Bíblia chega a dizer que o fariseu é aquele que tem zelo, paixão zelosa, mas não tem entendimento. Portanto, o embate de Jesus com o fariseu é para que ele compreenda que ainda não entendeu o caminho.
Precisamos entender que o fariseu é a melhor que a religião humana conseguiu produzir, o fariseu é o cara mais bem intencionado, mais bem sucedido que o judaísmo produziu.
Quem é a melhor pessoa que a religião evangélica consegue produzir hoje no mundo? A identidade de um fariseu é revelada justamente pela inversão da ideia do Evangelho. No evangelho existe uma sentença que é radicalmente diferente de todas as religiões. Em outras religiões, você obedece e porque você obedece, você é aceito. No evangelho você é aceito e porque você foi aceito, por conta de Cristo, eu obedeço.
No coração de um fariseu a obediência se torna uma moeda de troca, minha obediência que compra minha salvação. Descobrimos que mesmo nossas melhores lutas, sem Jesus não passam de fracasso.
Toda luta por identidade que não se apoia em Jesus, termina no mesmo lugar que os fariseus terminaram, perdidos. O fariseu luta tanto para ser alguma coisa que se torna nada.
l Os Saduceus Eles eram visivelmente os inimigos número um dos fariseus. Ao contrário dos fariseus, a maioria dos saduceus era de ricos e poderosos.
Nessa época, os sumos sacerdotes eram todos saduceus. Eles faziam acordos políticos e econômicos o tempo todo. Viviam um padrão de vida significantemente maior do que os compatriotas.
E, se de um lado o fariseu queria ser alguém melhor, de outro lado o saduceu queria privilégios.
Eles compravam cargos de sumo sacerdote.
Os saduceus acreditavam numa vontade livre, mas não na soberania de Deus. Só queriam privilégios.
É o primeiro grupo que cai na revolta de 66 a 70, na destruição do templo de Jerusalém, e não sobrevive.
O ponto positivo nos saduceus é que eles davam valor ao texto muito mais do que qualquer coisa da tradição.
Eles se gabavam por serem o único grupo de pessoas que levavam a sério o que estava escrito.
Mas do que adianta levar a sério o que está escrito, se você não vive o que está escrito? Isso também não serve para nada.
Um outro ponto, eles não acreditavam em ressurreição.
Não acreditavam em anjos, nem em demônios, existe uma mistura estranha na cabeça deste grupo.
l Os Herodianos Eles olhavam para a família de Herodes e eles tinham um sentimento messiânico com a família de Herodes. Você vê isso em Mateus 22:16, Marcos 3:6 e Marcos 12:13.
l Os Zadoqueus Eles são muito radicais, é a tradição escrita e deu. Não existia negociação.
Eles esperavam um certo mestre da justiça.
Este grupo tem uma pretensão mais religiosa de fato, uma expectativa de fé.
l Os Essênios Esses, não engoliam o sistema. Percebiam toda a corrupção dos saduceus, tinham uma percepção de que a vida religiosa havia tomado um rumo diferente.
Boa parte dos manuscritos que temos nós devemos aos essênios. A primeira corrente de Essênios juntou um grupo de mais ou menos 4 mil pessoas que ficavam juntos protestando de forma politica contra o sistema religioso da época.
Eles se negavam a fazer parte do sistema religioso.
No entanto, Jesus veio e eles estavam tão concentrados em fugir do sistema que não enxergaram a Sua vinda; sequer notaram Jesus, que esteve o tempo todo no meio deles.
l Os Zelotes Eram uma facção dentre os fariseus; queriam briga.
Os zelotes queriam pegar nas armas, conquistar o Império Romano, ansiavam por uma revolução política.
São causadores de 66 revoltas contra o Império Romano e em nenhuma tiveram sucesso.
Simão, um dos apóstolos, fazia parte desse grupo.
Na nossa atualidade, os zelotes são aqueles que tendem a ser agressivos demais em face das diferenças.
Em vez de misericórdia, agem como um rolo compressor. São intolerantes.
l Conclusão Podemos observar que cada um desses personagens se parece um pouco conosco. O fariseu era alguém que queria ser melhor, o saduceu queria ter privilégios. Os essênios tinham uma percepção muito desenvolvida, entendendo a corrupção do sistema e sem querer fazer parte. Os zelotes queriam resolver tudo na força. No entanto, Jesus fala com cada um deles, mostrando todos os seus erros com íntima compaixão. Da mesma forma, ao lermos o texto bíblico, que possamos entender tudo aquilo o que Jesus está falando conosco






